Mapeamento do Suicídio e suas Variáveis

Patrícia Alves
Patrícia Alves

July 23, 2022

Mapeamento do Suicídio e suas Variáveis

INTRODUÇÃO


O suicídio, fenômeno que está associado a problemas de saúde mental, está entre os três principais fatores desencadeantes de mortes para os indivíduos de ambos os sexos, com idade entre 15 e 34 anos na maioria dos países (BERTOLOTE; FLEISHMANN, apud WERLANG; BOTEGA, 2004). A Organização

Mundial da Saúde (OMS,1996) define, suicídio como um problema de saúde pública, devido ao crescimento da prática no mundo.

A espacialização de casos ligados à saúde se faz necessária para compreender a distribuição territorial desses casos e propor políticas de ação eficazes e aplicadas para cada área específica. Barcellos e Bastos (1996) afirmam que a produção de mapas, que permitam visualizar situações de risco à saúde, resultantes da interseção e da complementariedade de eventos, é coerente com um conceito de Vigilância à Saúde de base territorial (BARCELLOS; BASTOS, 1996). Grande número das causas de suicídios, cerca de 90%, está associado a indivíduos que sofrem de perturbações mentais ou comportamentais (OMS, 2001). Parte do problema é que a abrangência das unidades de saúde especializadas é deficiente, além das próprias políticas públicas não serem efetivas em compreender as características das áreas específicas, preparar servidores, acolher pacientes e também dialogar com a sociedade.

A pesquisa propõe a criação de um banco de dados geográficos mapeando os casos de suicídio no Distrito Federal, a partir da reunião e convergência de dados da Secretaria de Saúde e da Polícia Civil do DF. O projeto parte do mapeamento das áreas de abrangência de cada unidade de saúde que, em alguns casos ultrapassa os limites de uma ou mais Regiões Administrativas. Em seguida mapeia os casos de suicídio por Região Administrativa (RA), o que possibilita visualizar qual RA tem a maior número de casos de suicídio no DF.


METODOLOGIA


Esse estudo foi dividido em cinco etapas principais e análise de dados. A primeira etapa consistiu em reunião de material científico sobre a temática de suicídio no Distrito Federal a fim de analisar o tipo de produção científica sobre o assunto.

Reforçando a importância da espacialização de dados para estudo da relação entre geografia e saúde, a segunda etapa de estudo se baseou em pesquisa conceitual de termos-chave da área como a caracterização de lugar, espaço e território segundo alguns autores, tal qual Milton Santos com o objetivo de analisar e compreender qual a melhor aplicação dos termos nos recortes territoriais utilizados na pesquisa e para definição da escala e tema de estudo.

As terceira e quarta etapas consistiram na análise e mapeamento de dados. Na quarta etapa foram utilizados os dados da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SESDF) sobre a distribuição e abrangência de Centros de Saúde (CS). Dados de extrema importância visto que os CS são as instituições responsáveis pelo suporte e prevenção a doenças. Os dados da Secretaria de Saúde são enumerados em uma tabela que informa o número do Centro de Saúde e a abrangência dentro de cada quadra em determinado bairro. No caso das Regiões Administrativas mais recentes as áreas de abrangência extrapolam em alguns casos o limite entre as RAs. A tabela elaborada pela Secretaria de Vigilância à Saúde apresenta dados de abrangência relativos ao primeiro semestre de 2014. Os dados foram organizados por Centro de Saúde, e com auxílio da ferramenta Google Maps cada quadra foi mapeada por meio de polígonos no Software QGIS e em seguida agrupada a outras, definindo assim as áreas de abrangência dos Centros de Saúde. Para os Centros de Saúde de área rural, que são localizados em condomínios, a ferramenta Wikimapia – um site de mapeamento colaborativo – foi utilizada, uma vez que essas áreas não são demarcadas pelo GoogleMaps.

A quarta e última etapa consistiu no mapeamento pontual dos casos de suicídio no Software QGIS segundo dados da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Os dados adquiridos por intermédio da CODEPLAN foram disponibilizados no formato de tabela em um arquivo de extensão PDF que apresenta cada caso de suicídio registrado no Distrito Federal de 2000 a 2015 de forma não nominal segundo idade, sexo, cor, profissão e RA de residência dos indivíduos, tal como o local – bairro

– onde ocorreu o fato.


RESULTADOS E DISCUSSÕES


Foram mapeados 1586 casos de suicídio ocorridos no Distrito Federal no período de Janeiro de 2000 a Dezembro de 2015 e 96 áreas de abrangência referente aos Centros de Saúde urbanos e rurais do DF.

O mapa apresenta a distribuição dos casos por Região Administrativa. Ao todo 113 áreas de abrangência foram mapeadas para as 31 RAs, porém, como em RAs distintas contam com áreas de abrangência para a mesma unidade de saúde foi a sistematização das áreas de abrangência por Centro de Saúde, o que causou a redução das 113 áreas indicadas na tabela da Secretaria de Saúde para 97 áreas de abrangência totais.


CONCLUSÃO


Espacializar os dados de suicídio, tal como a abrangência da saúde é apenas um primeiro passo no sentido de estudar, pensar e propor soluções para problemas de saúde que acometem a sociedade. O presente estudo apresentou material com potencial para análises futuras sobre o fenômeno suicídio no Distrito Federal e buscou sistematizar, sintetizar e apresentar dados a profissionais e pesquisadores interessados na temática, de maneira a contribuir no enfrentamento ao fenômeno do suicídio no Distrito Federal e, incentivar a criação de propostas para solucionar as questões relacionadas a este fenômeno baseado em suas áreas de maior ocorrência.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BARCELLOS, C.; BASTOS, F. I. Geoprocessamento, ambiente e saúde: uma união possível? Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.12, n. 3, p. 389-397, jul/set, 1996.

BORTOLOZZI, Arlêude. FARIA, Rivaldo; Espaço, território e saúde: contribuições de Milton Santos para o tema da Geografia da Saúde no Brasil. Curitiba, RA' EGA: O espaço geográfico em análise, Curitiba, n. 17, p. 31-41, 2009a.

BOTEGA, N. J., & GARCIA, L. S. L. (2004). Brazil: the need for violence (including suicide) prevention. World Psychiatry, 3, 157-158.

BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes brasileiras para um plano nacional de prevenção do suicídio. Portaria n 1.876 de 14 de agosto de 2006.

OMS. Organização Mundial da Saúde/OPAS – Organização Pan-Americana de Saúde, 2001. SANTOS, Milton. Por uma geografia nova, Da Crítica da Geografia a uma Geografia Crítica. São Paulo: Edusp, 2002.


APOIO E COLABORAÇÃO


Colaboradores: Walter Ramalho (UnB/FCE e NMT) e Ana Julia Tomasini (PPGGEA- UnB).

Apoio: Laboratório de Geografia, Ambiente e Saúde ‐ LAGAS/UnB; Laboratório Misto Internacional de Observatório das Mudanças Ambientais (LMI‐OCE) ‐ IRD/UnB e Projeto JEAI GITES ‐ UnB/IRD. Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal – FAPDF, Universidade de Brasília.


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tags

Health Geography Spatial AnalysisSpatial Statistics

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