Na natureza, existem dois isótopos de carbono (C) que são estáveis e se encontram em determinadas
proporções. O 12C é o mais leve e apresenta a maior proporção em relação ao total de C na natureza
(98,89%), e o 13C representa apenas 1,11% do total. A razão entre esses dois isótopos (13C/12C) em
materiais orgânicos varia muito pouco em torno dos seus valores médios o que é devido ao resultado
do fracionamento isotópico durante os processos físicos, biológicos e químicos. Esta variação isotópica
é relativamente pequena nas plantas e na matéria orgânica decorrente. Os materiais mais enriquecidos
(os que apresentam valores mais altos de 13C) diferem dos menos enriquecidos (valores mais baixos
de 13C) em aproximadamente 4% ou 40 partes por mil (‰). O uso desses isótopos em estudos
ambientais baseia-se no fato de que a composição isotópica das substâncias naturais varia de forma
previsível, conforme a ciclicidade do elemento na natureza. Dessa forma, é possível avaliar a
contribuição relativa das diferentes fontes incorporadas à matéria orgânica de um ambiente e inferir os
possíveis efeitos ambientais, naturais ou não, que levaram às variações nos valores de 13C e 12C
(Boutton, 1996). Nesse contexto, a análise isotópica da matéria orgânica do solo pode ser utilizada para
inferir características da vegetação. Devido à sua sensibilidade a mudanças ambientais e climáticas e
ao seu importante papel nos ciclos biogeoquímicos através de seus reservatórios e fluxos em
geossistemas terrestres, a matéria orgânica do solo pode fornecer informações muito úteis sobre os
antigos climas e ambientes. Assim, o objetivo desse estudo foi analisar a composição isotópica da
matéria orgânica em solos de ambientes altomontanos e discutir seu potencial como registro de
informações ambientais. Os perfis foram morfologicamente descritos e caracterizados segundo o
Manual de Descrição e Coleta de Solo no Campo e o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos
(SiBCS). Para a análise isotópica em maior resolução, foram coletadas amostras em intervalos
regulares de 10 cm. Os resultados de δ13C apresentaram diferentes padrões de variação em
profundidade, com variações isotópicas maiores que 4‰ em quase todos os perfis, indicando
mudanças na comunidade de plantas durante a formação dos solos. Admite-se que a composição dos
isótopos do carbono (δ13C) das espécies de plantas do ciclo fotossintético C3 varia entre -22,0‰ e -
32,0‰, com média de -27,0‰, enquanto os valores de δ13C das espécies de plantas de ciclo
fotossintético C4 variam entre -9,0‰ e -17,0‰, com média de - 13‰. De forma geral, da base para o
topo dos perfis são observados valores mais empobrecidos indicando um período com predomínio de
plantas C4, seguido por uma fase marcada pela vegetação de ciclo C3 até o estágio atual, com valores
sinalizando a vegetação mista de ciclo C3 e C4, predomínio de plantas C3.